Terminou ontem, dia 29 de Abril,
a primeira edição do Festival de Música Sacra de Arronches, com a presença do
Orfeão de Portalegre e do Coral Públia Hortênsia de Castro de Elvas, com a
participação da soprano Jacinta Almeida, acompanhada no órgão positivo da
Igreja Matriz pelo maestro Amadeu d’Almeida, tendo este sido mais um magnífico
momento e uma festa da música polifónica, em que se puderam escutar peças de
Haendel, Palestrina, Vivaldi, Haydn, Mozart, Webber, para além de um repertório
da polifonia sacra portuguesa mais recente e da polifonia portuguesa
renascentista (neste caso a cargo do Orfeão de Portalegre). Aliás, o Orfeão de
Portalegre, de uma excelente solidez na afinação, insistiu nos temas
renascentistas, tendo sido feita uma passagem interessante para o repertório do
coral de Elvas que interpretou obras do período barroco e clássico, assistidas
de forma iluminante pela voz incomparavelmente doce e colorida da soprano
Jacinta Almeida. Dona de um timbre cintilante e aveludado, Jacinta Almeida não
necessitou de forçar a agilidade vocal nem de usar de efeitos contrastantes
acentuados para conseguir obter uma atmosfera emocional invejável, sobrepondo,
em algumas ocasiões, a sua voz à do coral que a seguia. De facto, Jacinta
Almeida, podendo combinar de forma explosiva os efeitos contrastantes da sua
voz, os cambiantes dinâmicos e abruptos, optou por uma linha mais contida
(percebeu-se a sua capacidade na oscilação grave/agudo, na facilidade do vibrato), conduzindo-nos para um plano
maravilhosamente espiritual – a sua interpretação de “Nun beut die flur” de
Haydn foi mesmo sublime. Também o maestro Amadeu d’Oliveira pareceu à vontade
no órgão positivo, comprovando o seu profundo virtuosismo como pianista, embora
reconhecesse a dificuldade em aplicar a sua técnica a um órgão sujeito a
efeitos de grande variação de temperatura. Quanto ao maestro Domingos Redondo
há que dizer que teve uma prestação simplesmente impecável na regência do
Orfeão de Portalegre, sabendo fazer acentuar os efeitos de dinâmica do coro e
conferindo-lhe de forma exímia a agilidade e os efeitos de grande contenção,
necessários ao espírito do concerto.
Com este último concerto,
fechou-se o ciclo de concertos de Páscoa que passou, anteriormente, por um
concerto de órgão e um concerto de câmara, desejando-se que Arronches possa
manter um festival regular de futuro. Notou-se sempre um crescendo na afluência
de público, sinal de que as temporadas acabam por criar hábitos. Mas mais
importante terá sido a sagração da espiritualidade que passou pela Igreja
Matriz durante este período. A Paróquia de Arronches congratula-se pela
presença de todos os que assistiram aos concertos e pela forma como o Município
de Arronches apoiou a iniciativa, contando que esse apoio possa ter
continuidade no próximo ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário