terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Memórias da Reforma Agrária: “ a terra a quem a trabalha” passados 35 anos


A rádio Voz da Planície (Beja), destaca a importância que o dia de hoje, 26 de Janeiro, teve há 35 anos anos para milhares de pessoas, sobretudo no Alentejo, mas também em muitas outras regiões do país. Neste dia, em 1975, realizou-se em Beja, na Sociedade Capricho Bejense um plenário de delegados do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Beja que deu, se assim se pode dizer, "o pontapé de saída" na Reforma Agrária que, no seu auge, envolveu mais de 50 mil trabalhadores agrícolas e mais de um milhão de hectares.

O Arronches em Notícias não podia deixar de assinalar a comemoração dos 35 anos daquele que foi um dos períodos da história nacional recente que marcou decisivamente, e por consequência, a história do Alentejo: a Reforma Agrária.

Pelo facto, dedicamos este texto a todos aqueles que lutaram na tentativa de trazer melhores dias para os campos de Portugal, e mais concretamente para os campos do Sul, e também a todos aqueles que apanhados pelas circunstâncias históricas do atraso da agricultura portuguesa com milhares de hectares abandonados ou simplesmente transformados em reservas de caça, acabariam por ver as suas propriedades ocupadas.

Em Arronches a Reforma Agrária também teve a sua história, embora essa mesma história ainda esteja por fazer, amada por uns e odiada por outros, ainda é um tema difícil de abordar.
O pouco que foi publicado alusivo ao concelho de Arronches poderá ser encontrado no livro “Reforma Agrária no Distrito de Portalegre – textos e entrevistas, 1978”, do escritor e publicista António Navarro.


A Reforma Agrária é marcada pela frase “a terra a quem a trabalha”, bem como pelas ocupações de terras, nacionalizações de herdades e expropriações das mesmas, sendo considerada por muitos como o período mais difícil do processo revolucionário, onde era normal ocorrerem manifestações, verem-se paredes caiadas com ameaças e condenações à morte, embora segundo consta nunca nenhuma tenha ocorrido.

A agricultura portuguesa até à Revolução dos Cravos não tinha uma participação activa a nível político, pois nem sequer existia um reconhecimento ministerial estando inserida no Ministério da Economia como Secretaria de Estado da Agricultura.
Depois da revolução, é então criado o Ministério da Agricultura, surgindo com este os “centros de reforma agrária”, e com o Decreto-Lei n.º 236-B/76 de 5 de Abril de 1976, nasce a Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ZIRA), a qual abrangia os distritos de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal, parte do sul do distrito de Castelo Branco e de Santarém, bem como dois concelhos de Lisboa e as freguesias do distrito de Faro confinantes com o distrito de Beja.

No entanto, as ocupações de terras começaram a emergir, e para Afonso de Barros estas ocupações dividiram-se em três fases: a 1.ª - de fins de 1974 até Julho de 1975; a 2.ª - em pleno “Verão Quente” de 1975; e a 3.ª - de princípios de Outubro de 1975 até Dezembro do mesmo ano.

A 1.ª fase caracteriza-se pela ocorrência das primeiras ocupações de terras, quando há um agravamento do desemprego sazonal. É precisamente aqui que existe alguma controvérsia à volta de qual terá sido a primeira a ser ocupada. E se para o ex-governador civil de Évora, Alves Pimenta, a primeira ocupação surgiu na Herdade de Pombal (distrito de Évora), já para António Barreto ocorreu na Herdade do Outeiro ou Herdade do “Zé da Palma” (concelho de Beja).

Na 2.ª fase o movimento de ocupação de terras tem a sua maior expressão, e os trabalhadores apoiados pelo PCP e pelo MFA, assumem claramente a sua intenção de modificar as relações de propriedade e de produção.

Durante a 3.ª fase do movimento ocupam-se cerca de 60% do total das terras a expropriar, finda o período revolucionário que ficou conhecido como PREC e nascem as Unidades Colectivas de Produção (UCP).


Fontes: Rádio Voz da Planície, Revista Alma Alentejana, Blog A Cinco Tons.


3 comentários:

  1. Ao que me é dado saber esta para breve a publicação de um álbum de fotografias da Reforma Agrária no distrito de Portalegre da autoria de um conhecido sindicalista alentejano.

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  2. gostei,bom trabalho sobre este período conturbado do pós 25 de Abril de 1974 no Alentejo, por acaso sabem que um dos melhores arquivos da reforma agrária está na câmara de Avis, infelizmente bastante negligenciado com muitos documentos em risco de se perderem para sempre
    J.Gaspar

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  3. Apenas em jeito de esclarecimento:

    Embora referidas por diversas vezes neste blog as regras básicas para a publicação de comentários parece que a informação ainda não chegou a todos, vem isto a propósito de alguns comentários anónimos, em particular um elaborado e extenso texto comentando a efeméride da Reforma Agrária.
    Já que s regras que nos regem não nos permitem julgar os diferentes pontos de vista, foi com pena não deixa-mos passar este comentário, em primeiro lugar pelo português com muitos erros, segundo por conter excessos verbais contra um determinado partido político, este devidamente legalizado pela Constituição Portuguesa.
    Ainda quanto à Reforma Agrária apenas recordamos a data de um facto histórico que na época apaixonou a sociedade portuguesa, com destaque para as gentes do sul e na qual Arronches se viu inserida com os mesmos defeitos ou virtudes sobejamente conhecidos deste processo pós 25 de Abril de 1974.

    Nunca poderemos negar factos históricos, muito menos julgar de ânimo leve o que deu origem a este movimento que um dia enfrentou ocupantes e ocupados, ambos vítimas de uma sociedade atrasada e injusta que condenou à miséria a milhares de Alentejanos, que na época não sonhavam vir a ser ocupantes de terras e muito menos vermelhos ou azuis.
    Quanto ao Monte de Vale Monteiro, muito do que é referido no texto recebido é mais mito do que realidade, a verdadeira destruição desse monte veio a acontecer já finalizado o processo da Reforma Agrária, com a morte dos proprietários e uma Fundação Religiosa a herdar e a gerir o vasto património deixado pelas elvenses irmãs Gonçalves, Graciela, Cremilde e Violante.

    Não duvidamos do excelente trabalho dessa Fundação na cidade de Elvas, mas em relação ao monte de Vale Monteiro algo falhou, actualmente as fantasmagóricas ruínas do monte de Vale Monteiro são o expoente máximo da ingratidão para com a memória das irmãs Gonçalves.
    Hoje nos seus imensos salões que outrora juntaram à mesa bispos e outros altos signatários da igreja, isto enquanto lá fora pela herdade muitos trabalhadores eram alimentados com pão com azeitonas ou romãs, estes mesmos salões de portas abertas e sem vidros nas janelas são hoje redil de cabras, talvez castigo divino pela sua falta de generosidade para com todos aqueles que durante uma vida as serviram com dedicação a troco de uma mão cheia de nada.
    Mande lá o seu texto sem excessos verbais, menos erros, ou permita a correcção dos mesmos, teremos muito gosto na sua publicação.

    Não esqueça que explorados e exploradores foram ambos vítimas de uma sociedade injusta, uns poucos nascidos em berço de ouro e muitos outros comendo o tal pão que o diabo amassou ou melhor com romãs da horta de Vale Monteiro.

    Atentamente
    A Gerência

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