quinta-feira, 8 de março de 2012

Á Mulher Alentejana

No dia da mulher a nossa homenagem à mulher alentejana com um passado sofrido de pobreza e dura luta nos campos do sul, aqui simbolizado nesta foto com Marcelo Caetano, a lembrar tempos passados sem Troikas como cenário.

Com Caetano as camponesas do sul sonharam com um futuro melhor, que acabaria por não as trair e houve de facto melhores condições de vida nos campos do sul e alguma "liberalização".

O erro da altura foi pensar que nos regimes ditatoriais "liberalização" queria dizer democratização. Sem Guerra Colonial, talvez a esperança de uma democratização elitista se concretizasse. Mas os valores e as ideias moldam mais os homens do que o pragmatismo da democracia.

Caetano, no fundo, também não imaginava Portugal sem império e sabia que em democracia ele desapareceria em meses como de facto veio a acontecer, com o 25 de Abril, um virar de página sofrido sem pena nem glória, com a esperança de tempos melhores que como a lenda de D. Sebastião ainda estão para vir numa manhã de nevoeiro… para os portugueses e novas nações do velho império lusitano.


Á Mulher Alentejana

Mulher Alentejana é madrigal

É aragem fresca, água que corre

É sentimento que nunca morre

Mulher Alentejana é farol

A sua luz faz inveja ao sol


É força agreste, terra barrenta

Fruta silvestre, amora preta

Veste-se de negro simples discreta

Esconde o choro num riso franco

Olha o campo é filho seu

Morreu na guerra, luto lhe deu

Raiva bravia, fundo barranco

Que lhe engoliu os sentires

Rugas na pele gasta p'lo sol

Já foi menina de frescas carnes

Foi rainha de alguns amores

Hoje velhinha pensa na prol


Olha pró sol, aqui estou eu

Vivi a vida que Deus me deu

Posso morrer vou descansada

Perdi os passos naquela estrada

Ganhei o chão onde vou morar

Com o meu filho vou descansar


Olha pró sol, último adeus

À terra virgem, barro gasto

Já não há trigo, já não há pasto

Ai Alentejo dos olhos meus

Antónia Ruivo

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