O Mentiroso e o Lobo

Um provérbio antigo, como todos os provérbios e por isso politicamente incorrecto, reza que “é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo”. Hoje já não há nem “mentirosos” nem “coxos” (um meu conhecido, por exemplo, era “maneta”), haverá quando muito uns sujeitos que dizem umas “inverdades” e uns “portadores de deficiência motora”.
É claro que com isto não estou a equiparar moralmente uns e outros, estou apenas a revelar que a eufemização da linguagem é que os equipara, ainda que alegue sempre pretender o contrário.

O Mentiroso e o Lobo

Era uma vez um jovem pastor que tomava conta de ovelhas de todas as pessoas da aldeia onde ele vivia. Logo de manhã juntava as ovelhas dos vários donos e levava-as ao campo a pastar. E à noite chamava-as e conduzia-as novamente a casa.
Às vezes era agradável andar pelas colinas e o tempo passava depressa. Mas outros dias o rapaz ficava aborrecido a olhar para as ovelhas a pastar a erva fresca de manhã até à noite.
Certo dia, resolveu divertir-se.
- Um lobo! Um lobo! - gritou ele com toda a força. - Um lobo anda a atacar as ovelhas! Todos os camponeses saíram a correr de casa para o ajudar a afugentar o lobo. Mas encontraram o rapaz a rir às gargalhadas com a cara de aflição deles.

O rapaz fez a mesma partida segunda e terceira vez e os camponeses corriam sempre para o ajudar. Então, numa tarde escura de Inverno, quando o rapaz se preparava para reunir as ovelhas e levá-las para casa, apareceu um lobo de verdade a rondar ali. O primeiro sinal foi o balir assustado das ovelhas. E, observando no escuro, viu um vulto cinzento rastejando em direcção ao rebanho. O lobo parecia enorme e ele só tinha o cajado para se defender. A gritar «Um lobo! Um lobo! Um lobo anda a atacar as ovelhas!», com toda a força dos seus pulmões, correu para a aldeia. Mas desta vez os camponeses não saíram de casa para dar caça ao lobo. Um ou dois ainda desviaram os olhos do que estavam a fazer ao ouvir aquele barulho, mas todos ou outros encolheram os ombros e disseram:
- Já não é a primeira vez que ele prega esta partida.
E antes que o rapaz conseguisse alguém para o ajudar, o lobo tinha levado todas as ovelhas.
Ninguém acredita num mentiroso mesmo que ele diga a verdade.


Moral da história: "A coisa mais bem distribuída no mundo é o bom-senso. Todos acreditam que têm o suficiente."
(Michel de Montaigne)

Bibliografia: Fábula de Esopo/Versão de Ricardo Alberty
Foto: carpinejar

Nota: Depois 1.775 posts publicados, aqui no arronchesemnoticias, dando a cara por um projecto não isento de alguns erros tendo apenas objectivo divulgar Arronches junto da comunidade arronchense aqui residente ou dispersa pelo mundo, trabalho este feito a custo zero, privilegiando o positivo em detrimento do menos positivo como, (facilmente pode ainda ser constatado na imprensa regional que em diversas ocasiões nos reproduz), fomos finalmente chamados de Mentirosos durante algum tempo por alguém que diga-se teve o valor de se identificar, valeu-nos a atenção de um conhecido doutor, pessoa atenta ao que se publica nas webs para nos livrar do crime que precipitadamente nos foi imputado, dado que a nossa palavra ficamos agora a saber vale ZERO…