A memória colectiva é um dos bens mais valiosos de uma comunidade. Apesar de não ser palpável, é o que lhe transmite identidade, que une e a torna única. A preservação deste património imaterial tem uma importância incalculável mas muitas vezes é simplesmente esquecida. Neste campo, a recolha e salvaguarda das histórias e saberes das gentes do concelho de Arronches é de vital importância para a memória histórica das gerações vindouras.
É nesta temática que hoje vamos relembrar um o ciclone de 1941, um acontecimento trágico que foi, sem dúvida, um dos momentos marcantes da história deste povo que na época em Arronches vivia da terra e para a terra.
Ao fim da manhã desse 15 de Fevereiro de 1941, J. Correia, na altura um rapaz de 13 anos, tinha acabado de almoçar, como habitualmente na oficina de carpintaria do Sr. João Guerra, ao fundo da rua do Açougue, após o almoço dirigiu-se à drogaria Bigares, no Largo da Cadeia onde foi buscar uns vidros, quando se apercebeu de forte ventania. Não estranhou, pois essa noite e manhã de Fevereiro já davam sinais de temporal. De repente mal teve tempo de chegar à drogaria, vindo dos lados de Assumar escutou um ruído ensurdecedor seguido de rajadas de vento que tudo destruíam à sua passagem, refugiado na casa Bigares deixou a tempestade amainar, no regresso à carpintaria verificou que o grande eucalipto existente junto ao convento de Nossa Senhora da Luz não tinha resistido à força do vento, sendo arrancado pela raiz, Nas ruas o povo assustado verificava os estragos e comentava “foi um ciclone”.
Se no perímetro urbano da vila os estragos para além do grande susto se resumiram em danos provocados nas chaminés, beirados e alguns telhados destelhados, assim como muitas árvores de fruto arrancadas. Nos campos os danos materiais foram mais significativos com centenas de árvores arrancadas um pouco por todo o concelho montes e “malhadas” de pastores destruídos pela força do vento.
Na zona das Coutadas do Povo centenas de oliveiras em escassos segundos foram arrancadas pela raiz.
O mestre Manuel Branco, então com 22 anos recorda também esse trágico acontecimento referindo os calamitosos estragos motivados pelo ciclone com as sementeiras de favas devastadas e milhares de árvores derrubadas, a força do vento foi tal que arrancou pela raiz alguns dos gigantescos eucaliptos que antes existiam na saída de Arronches para Esperança, actual rua da Esperança.
Nesse ano foi tal a quantidade de lenha transformada em carvão, que o mesmo até baixou o preço de venda ao público.
A cruz em ferro forjado que encimava a torre sineira da igreja matriz de Arronches retorcida pela força do vento foi durante décadas o sinal da passagem do ciclone, testemunho apagado pela TMN aquando da sua substituição por uma moderna cruz/antena de comunicações em pvc.
O Ciclone que assolou Arronches em 1941 foi um fenómeno meteorológico raro em Portugal, que afectou outras zonas do país e da Península Ibérica.
Embora os relatos da época indiquem a zona de Coimbra como a mais afectada, toda a faixa litoral sofreu graves danos materiais com a perda de vidas humanas, com destaque para Sesimbra onde uma gigantesca vaga vindo do mar engoliu as casas, matando 4 pessoas e destruindo os 309 barcos da frota da pequena vila piscatória, barcos esses já antes recolhidos em terra pelos pescadores para escaparem ao temporal que se previa.
Um pouco por todo o país apesar de já quase não existirem testemunhos físicos do Ciclone, as marcas da sua passagem por Arronches continuam bem vivas, tanto na memória daqueles como J. Correia ou Manuel Branco, nascido em 1919, que o viveram de perto, como todos aqueles que ficaram com os seus haveres destruídos e passaram momentos de terror naquele fatídico 15 de Fevereiro de 1941.
Bibliografia:
Testemunhos: J. Correia - nascido a 1929 – Manuel Branco – nascido em 1919
Foto: Convento Nª. Sr.ª da Luz ainda com o eucalipto - Colecção E. Moitas – imagem cedida pela irmã Lili Batista.
Foto: Memorial ás vitimas do Ciclone de 1941– Meteo.pt
É nesta temática que hoje vamos relembrar um o ciclone de 1941, um acontecimento trágico que foi, sem dúvida, um dos momentos marcantes da história deste povo que na época em Arronches vivia da terra e para a terra.
Ao fim da manhã desse 15 de Fevereiro de 1941, J. Correia, na altura um rapaz de 13 anos, tinha acabado de almoçar, como habitualmente na oficina de carpintaria do Sr. João Guerra, ao fundo da rua do Açougue, após o almoço dirigiu-se à drogaria Bigares, no Largo da Cadeia onde foi buscar uns vidros, quando se apercebeu de forte ventania. Não estranhou, pois essa noite e manhã de Fevereiro já davam sinais de temporal. De repente mal teve tempo de chegar à drogaria, vindo dos lados de Assumar escutou um ruído ensurdecedor seguido de rajadas de vento que tudo destruíam à sua passagem, refugiado na casa Bigares deixou a tempestade amainar, no regresso à carpintaria verificou que o grande eucalipto existente junto ao convento de Nossa Senhora da Luz não tinha resistido à força do vento, sendo arrancado pela raiz, Nas ruas o povo assustado verificava os estragos e comentava “foi um ciclone”.
Se no perímetro urbano da vila os estragos para além do grande susto se resumiram em danos provocados nas chaminés, beirados e alguns telhados destelhados, assim como muitas árvores de fruto arrancadas. Nos campos os danos materiais foram mais significativos com centenas de árvores arrancadas um pouco por todo o concelho montes e “malhadas” de pastores destruídos pela força do vento.
Na zona das Coutadas do Povo centenas de oliveiras em escassos segundos foram arrancadas pela raiz.
O mestre Manuel Branco, então com 22 anos recorda também esse trágico acontecimento referindo os calamitosos estragos motivados pelo ciclone com as sementeiras de favas devastadas e milhares de árvores derrubadas, a força do vento foi tal que arrancou pela raiz alguns dos gigantescos eucaliptos que antes existiam na saída de Arronches para Esperança, actual rua da Esperança.
Nesse ano foi tal a quantidade de lenha transformada em carvão, que o mesmo até baixou o preço de venda ao público.
A cruz em ferro forjado que encimava a torre sineira da igreja matriz de Arronches retorcida pela força do vento foi durante décadas o sinal da passagem do ciclone, testemunho apagado pela TMN aquando da sua substituição por uma moderna cruz/antena de comunicações em pvc.
O Ciclone que assolou Arronches em 1941 foi um fenómeno meteorológico raro em Portugal, que afectou outras zonas do país e da Península Ibérica.
Embora os relatos da época indiquem a zona de Coimbra como a mais afectada, toda a faixa litoral sofreu graves danos materiais com a perda de vidas humanas, com destaque para Sesimbra onde uma gigantesca vaga vindo do mar engoliu as casas, matando 4 pessoas e destruindo os 309 barcos da frota da pequena vila piscatória, barcos esses já antes recolhidos em terra pelos pescadores para escaparem ao temporal que se previa.
Um pouco por todo o país apesar de já quase não existirem testemunhos físicos do Ciclone, as marcas da sua passagem por Arronches continuam bem vivas, tanto na memória daqueles como J. Correia ou Manuel Branco, nascido em 1919, que o viveram de perto, como todos aqueles que ficaram com os seus haveres destruídos e passaram momentos de terror naquele fatídico 15 de Fevereiro de 1941.
Bibliografia:
Testemunhos: J. Correia - nascido a 1929 – Manuel Branco – nascido em 1919
Foto: Convento Nª. Sr.ª da Luz ainda com o eucalipto - Colecção E. Moitas – imagem cedida pela irmã Lili Batista.
Foto: Memorial ás vitimas do Ciclone de 1941– Meteo.pt
Já reparou que a fotografia em causa (eucalipto)foi reproduzida ou revelada ao contrário?
ResponderEliminarQuanto ao 2º. Ciclone que destruíu por completo a cruz de ferro forjado,da Igreja Matriz, outros valores se levantam (por uns euros ou escudos)foi vandalizada com autorização de quem???? para que se substituisse por uma cruz de metal (antena da TMN) e assim permanece mais um atentado ao património sem que os autores fossem chamados pela justiça.
Tinha eu 13 anos de idade, 15/2/1941, recordo-me muito bem, guardava umas cabras à entrada da freguesia da Esperança, junto ao lagar e comecei a ouvir e a sentir o vento ,corri para junto do lagar e as cabras fugiram para casa, nas pratas, depois do ciclone passar corri também para casa, onde se encontravam os meus pais muito aflitos a olhar para a serra dos Louções, onde tínhamos um olival e se via as oliveiras todas no chão e arrancadas, bem como outros olivais próximos na mesma direcção, Foram grandes os prejuízos, porque era das oliveiras que vinha o nosso sustento.
ResponderEliminarParabéns amigo, Emilio Moitas, pela reportagem em Arronches em Notícias. Obrigado.
Nesse dia foi o casamento de João Pereira Gonçalves, sogro do Sargento Nunes, da antiga Guarda Fiscal, que reside em Arronches.
J. Sena
Um excelente trabalho meu caro amigo, concordo quando afirma que a preservação da memória colectiva implica o somatório das memórias passadas.
ResponderEliminarAqui na zona de Castelo de Vide pelos relatos que tenho dessa época os estragos do ciclone foram imensos.
Na zona Porto Espada onde os meus avós paternos tinham um souto a tempestade arrancou bastantes castanheiros pela raiz, árvores seculares de grande porte que foram em alguns projectadas a vários metros de distância.
J. Canário
O meu Pai nasceu em Beja nesse dia facto que sempre ouvi ao longo da vida.
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