quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Arronches – Rancho de mosteirenses nos tomatais do Caia em 1970



Quando da inauguração da barragem do Caia, (1967), o regadio deu origem à cultura do tomate principalmente nos concelhos de Campo Maior e Elvas, com esta cultura a alimentar a    indústria agro-alimentar e a ocupar cerca de cinquenta por cento da área de regadio disponível e a atrair centenas de trabalhadores rurais.

Sendo a conceção da obra o fornecimento de água por gravidade, ocupava a grande maioria da mão-de-obra de cinco concelhos da zona da barragem do Caia como Arronches, principalmente na época de primavera-verão onde a crise de desemprego era mais acentuada fazendo sair de séries dificuldades de sobrevivência milhares de trabalhadoras e trabalhadores que encontraram o ganha pão nos regadios de Campo Maior.


Durante semanas ou mesmo meses famílias completas oriundas dos diversos concelhos ali desenvolviam a sua atividade, auferindo um melhor salário, mas sujeitas a condições de trabalho e habitabilidade penosas, convivendo com produtos químicos utilizados na cultura do tomate ou as picadas de insetos que ao final do dia surgiam aos milhares das águas estagnadas dos canais e regadio.


A partir do ano de 1975 a evolução dos salários, a diminuição da mão de obra e dificuldades na exportação dos produtos derivados do tomate, sobretudo concentrado, originou o aparecimento de culturas alternativas na área da barragem do Caia, já bastante ou totalmente mecanizadas como o milho, girassol e o alho, manteve-se por algum tempo a cultura do arroz que tinha evoluído para novas tecnologias de sementeiras superando assim a falta de mão de obra e aumento de custos da mesma.


Atualmente o olival intensivo e amendoal vão ocupando a área de regadio do perímetro do Caia.


Memórias da vivência da ruralidade que já não existe, mas que formou gerações de pessoas num espaço do Alentejo hoje já irreconhecível.


Preservar estes testemunhos, talvez se volte a olhar para o espaço rural alentejano, agora desertificado, como um controverso lugar também de vida, onde muitas pessoas, ao ritmo das estações e dos trabalhos agrícolas, desenvolveram os seus projetos pessoais, assumiram interesses comuns e se envolveram numa dinâmica social e política ímpar em Portugal em que deixaram ficar a sua marca.


Fica a memória local com um rancho de trabalhadores rurais oriundos da freguesia de Mosteiros no concelho de Arronches, no tomatal de Campo Maior em 1970.

Com/ Emílio Moitas

Sem comentários:

Enviar um comentário