Sendo a conceção da obra o fornecimento de água por
gravidade, ocupava a grande maioria da mão-de-obra de cinco concelhos da zona
da barragem do Caia como Arronches, principalmente na época de primavera-verão
onde a crise de desemprego era mais acentuada fazendo sair de séries
dificuldades de sobrevivência milhares de trabalhadoras e trabalhadores que encontraram
o ganha pão nos regadios de Campo Maior.
Durante semanas ou mesmo meses famílias completas oriundas
dos diversos concelhos ali desenvolviam a sua atividade, auferindo um melhor
salário, mas sujeitas a condições de trabalho e habitabilidade penosas,
convivendo com produtos químicos utilizados na cultura do tomate ou as picadas
de insetos que ao final do dia surgiam aos milhares das águas estagnadas dos
canais e regadio.
A partir do ano de 1975 a evolução dos salários, a
diminuição da mão de obra e dificuldades na exportação dos produtos derivados
do tomate, sobretudo concentrado, originou o aparecimento de culturas
alternativas na área da barragem do Caia, já bastante ou totalmente mecanizadas
como o milho, girassol e o alho, manteve-se por algum tempo a cultura do arroz
que tinha evoluído para novas tecnologias de sementeiras superando assim a
falta de mão de obra e aumento de custos da mesma.
Atualmente o olival intensivo e amendoal vão ocupando a área
de regadio do perímetro do Caia.
Memórias da vivência da ruralidade que já não existe, mas
que formou gerações de pessoas num espaço do Alentejo hoje já irreconhecível.
Preservar estes testemunhos, talvez se volte a olhar para o
espaço rural alentejano, agora desertificado, como um controverso lugar também
de vida, onde muitas pessoas, ao ritmo das estações e dos trabalhos agrícolas,
desenvolveram os seus projetos pessoais, assumiram interesses comuns e se
envolveram numa dinâmica social e política ímpar em Portugal em que deixaram
ficar a sua marca.
Fica a memória local com um rancho de trabalhadores rurais
oriundos da freguesia de Mosteiros no concelho de Arronches, no tomatal de
Campo Maior em 1970.
Com/ Emílio Moitas
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