sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Arronches no Diário de Notícias - Pinturas Rupestres

Descobertas pinturas rupestres com cinco mil anos

Investigadores da Universidade de Évora identificaram novo conjunto de imagens datadas do III e IV milénios antes de Cristo numa gruta em -Arronches. Será criado um Centro de Interpretação de Arte Rupestre.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Évora, liderada pelo arqueólogo Jorge Oliveira, identificou um novo conjunto de pinturas rupestres numa gruta localizada nas proximidades da aldeia de Esperança, concelho de Arronches.
Datadas do III e IV milénios antes de Cristo (a.C.), as pinturas foram descobertas num local conhecido como Pego do Inferno, no âmbito de um projecto de investiga- ção sobre Arte Rupestre em Arronches (ARA).
"São pinturas esquemáticas, feitas a vermelho e negro, que se inscrevem no mesmo estilo de outras anteriormente identificadas na Esperança", diz Jorge Oliveira ao DN, classificando esta região como "o mais importante santuário de arte rupestre no Sul do país".
A descoberta deste novo conjunto pictórico, formado pelo menos por três painéis, resultou de um mero acaso. Para além do decalque e fotografia de todas as pinturas rupestres já conhecidas, os investigadores decidiram avançar com a prospecção sistemática da zona envolvente.
"Se temos grutas com pinturas, têm de existir nas redondezas outros espaços paralelos, como povoados ou antas", resume Jorge Oliveira, revelando que durante esse trabalho foram identificados alguns pequenos locais com pinturas e três dólmenes.
A partir do momento em que o trabalho dos arqueólogos se tornou conhecido na aldeia, não tardou a surgir uma revelação espantosa: um funcionário da autarquia lembrou-se da existência de uma gruta na zona do Pego do Inferno, praticamente inacessível, onde em tempos se tinha "acoitado um homem que andava no pilho [roubo]".
Quando a equipa de investigadores, que integra alunos da Universidade de Évora e envolve a colaboração do Laboratório de Física Nuclear da Universidade da Extremadura, chegou ao local, a descoberta foi surpreendente. "Mal entrámos, do lado esquerdo, apesar do negro de fumo em abundância, eram visíveis sinais de pinturas. Ali estavam elas", recorda Jorge Oliveira, enquanto acompanha o DN numa visita ao interior da gruta, localizada na margem portuguesa da ribeira do Abrilongo, num dos sopés da Serra de São Mamede.
O primeiro passo foi fazer o registo fotográfico dos três painéis encontrados. Agora, as paredes serão limpas num trabalho minucioso destinado a revelar a eventual existência de mais pinturas.
Segundo o coordenador da equipa, estas representações antropomórficas comprovam a utilização daquele espaço como um local sagrado. "Estamos na presença de uma arte esquemática, elaborada, feita por comunidades neolíticas, calcolíticas e da Idade do Bronze. Já não é apenas um retrato pleno da realidade como fez o Homem do paleolítico em Foz Coa. Esta é a antecâmara da escrita, daí ser impossível descodificar o significado de todos estes signos e símbolos", acrescenta.
Para além dos trabalhos de campo, o projecto ARA prevê a adaptação de um antigo lagar de azeite a Centro de Interpretação da Arte Rupestre, onde terão início percursos pelos locais de Esperança onde há pinturas do neolítico.
O abrigo mais decorado, e o primeiro do conjunto a ser descoberto, em 1914, é o dos Gaivões onde se destaca a "narração" de uma cena de pastorícia, "perfeitamente contextualizável na tipologia da sociedade agro-pastoril" instalada na região há cinco mil anos.
Convencido de que "ainda haverá mais pinturas nas serras", o presidente da Junta da Esperança, Diamantino Ribeiro, diz que o futuro centro de interpretação poderá ser um "contributo importante para tornar este património conhecido e desenvolver o concelho".

Por LUÍS MANETA, Évora 23 Agosto 2009

In: Diário de Notícias

6 comentários:

  1. Senhor Diamantino para quando esse tal futuro Centro de Interpretação das Pinturas Rupestres, espero que não tarde tantos anos como o Parque de Merendas.
    Já agora a talho de foice porque não mais um espaço museológico na antiga fábrica do café caracolilho, o amigo Jorge agradecia e a freguesia valorizava-se um pouco mais.

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  2. Bem pensado e porque não associar esse museu do café ás memórias do contrabando, certamente seria um museu singular bem diferente dos existentes na região

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  3. O pessoal da Esperança pode agradecer á vereadora Emília todo esse trabalho que tem sido feito na divulgação das pinturas rupestres nos últimos tempos

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  4. Coincidência das coincidências ,ter de agradecer logo agora, numa altura tão propícia a tanta "divulgação"....
    O engraçado é que andamos tantos e tantos anos à espera e só agora é que houve interesse...

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  5. Já agora convém não esquecer o trabalho da equipa da Universidade de Évora liderada pelo Dr Jorge Oliveira, assim como o a aposta da Câmara de Arronches na salvaguardas deste património histórico

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  6. Extraordinária descoberta que vem enriquecer, ainda mais, o Património do concelho de Arronches! Parabéns à Universidade Évora, particularmente ao Dr. Jorge Oliveira, e à Sr.ª Vereadora Mª Emília Costa que concretizou a realização deste acordo para a exploração e consolidação deste rico Património.
    O achado está nas mãos de quem sabe, aguardamos com expectativa que o estudem e integrem no conjunto de pinturas rupestres já identificado, assim como também, devem promover e assegurar a sua protecção legal. Quanto ao Nosso Município, aguardamos que esse Centro de Interpretação seja uma realidade e que saiba valorizar e tirar proveito desta riqueza histórica que poderá, em conjunto com o restante Património constituir um motor para o desenvolvimento turístico da região.

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