Juan, um alemão de
quarenta e poucos anos, que por estes dias percorre as estradas do Alentejo,
acompanhado pela sua cadela Clara, é provavelmente o homem mais feliz do mundo,
com um passado normal e igual a milhões de pessoas, um dia possivelmente
desiludido com a sociedade atual e fez um clic e mudou o seu estilo de vida.
Largou tudo o que tinha na sua Alemanha natal e fez-se à
estrada, inspirado em São Francisco de Assis (daí a sua cadela ter o nome de
Clara, em homenagem à irmã de São Francisco).
Religioso mas crítico com a Igreja, diz de acreditar em
Deus. Há doze anos que anda (literalmente andar) pelo sul da Europa. Trabalha
muitas vezes em troca de abrigo e de comida, ou ainda de algum dinheiro para
atender a necessidades como por exemplo a de esterilizar a Clara, que tem sido
a sua companheira de viagem.
No passado verão, em Agosto, veio para Portugal, entrou pela
fronteira do Caia em Elvas, numa altura em que as temperaturas na zona
registaram mais de 40 graus, o que deu origem a que Clara assa-se as patas no
alcatrão, ficando impedida de caminhar.
Um problema para Juan, que desesperado pedia ajuda a toda a
gente para tratar a cadela sem ser atendido, negando-se a abandonar a sua
companheira veio até Arronches com a cadela ao colo, onde por mero acaso
encontrou a Patrícia Flores, responsável da Arronches Adopta, local onde
finalmente encontrou ajuda e permaneceu alguns dias, até a cadela recuperar,
nestes dias nada faltou a ambos os viajantes, tiveram tudo, comida, banho,
veterinário, mas segundo Patrícia Flores, nunca quis dormir na sua casa ou até
mesmo nos bombeiros, dizia que a casa dele é o mundo e por isso dorme sempre ao
relento.
De Arronches seguiu a pé para Fátima e por aquelas bandas
andou sem rumo estes meses, ontem sábado dia 15 de outubro, voltou pela segunda
vez a Arronches desta vez para agradecer o acolhimento recebido e conhecer a
Lupita (a filha da Patrícia).
Hoje domingo, ainda
não raiava o dia seguiu para Monforte a caminho de Évora, para tentar chegar ao
Algarve, local onde o inverno é menos frio.
Sei que partiu de Arronches contente, e fez-me recordar
aquela parábola do “Bom filho a casa torna”... mas eu diria antes “ Volta-se sempre ao local onde se é bem recebido”... e nisso Arronches faz a diferença, graças a muitos/as Patrícias, que no fundo a
troco de nada dão o seu contributo para uma sociedade mais justa e menos
preconceituosa para as diferenças de ver e viver a vida...
O Juan, podia até ter sido cientista famoso ou que sabe um
assessor da influente chanceler alemã Angela Merkel, mas decidiu seguir os
ensinamentos de São Francisco de Assis, e possivelmente ser o homem mais feliz
do mundo.
Deixo o pedido a quem se cruzar com estes insólitos
caminhantes, ajudem por favor e puderem dêem boleia entre os sítios por onde
vão passando.
E.Moitas
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