Na sequência de uma visita ao Museo Nacional
de Arte Romano de Mérida, a pretexto de rever In situ, uma importante peça
arqueológica encontrada em Arronches, integrada na exposição que ali decorria,
e que atualmente percorre importantes museus arqueológicos, embora enquanto
esteve depositada e exposta no Centro Cultural de Arronches tenha sido praticamente
ignorada por quase todos os arronchenses, voltei a recordar uns quantos blocos
de granito existentes no concelho de Arronches e dispersos por diversos locais,
possivelmente provenientes de um antigo monumento funerário escalonado (com
degraus) romano.
Embora rico em vestígios arqueológicos
da ocupação romana, com diversos achados fruto do acaso aquando de trabalhos
agrícolas tais como o arar dos campos ou abertura de covas para plantação de
oliveiras, os dados disponíveis são escassos, com excepção do trabalho
desenvolvido por Isabel Pinto, no ano de 1998, e enquadrado num projeto de
Estudo do Povoamento Rural Romano, assim como com a realização da primeira
campanha de escavações numa villa romana, situada a noroeste do concelho, Villa
romana do Monte da Capela, na freguesia de Mosteiros.
Com a extinção do então Gabinete
Técnico Local da Câmara Municipal de Arronches, o projeto de estudo do
Povoamento Rural Romano, assim as escavações foram interrompidas, com os
materiais encontrados nas primeiras campanhas a serem enviados para depósito no
Crato.
Mas voltando às peças granito que
hoje podem ser vistas a integrar a estrutura de um moinho de água, e outras no
adro da Igreja Matriz de Nossa senhora Graça, e ainda outras duas daqui levadas
para junto da antiga ermida de S. Bento em Mosteiros, e entretanto
desaparecidas do local, mas dado o seu tamanho e peso, é possível que a JF. de
Mosteiros saiba para onde foram deslocadas, dadas as suas semelhanças e
quantidade poder-se-ia estar na presença de um monumento escalonado funerário
romano, semelhante ao de e Zósimo, hoje
exposto no Museu de Mérida, que tenha sido desmontado na zona dos montes da
Capela, ou Nave do Grou, na freguesia de Mosteiros, locais de onde alguns
residentes afirmam terem sido levados materiais semelhantes.
No caso de Mérida em 1979, e com
obejetivo de retirar escombros que ali tinham sido acumulados provenientes de
escavações anteriores, ao rebaixar-se uma zona perto da estrada que dá acesso
ao Teatro Romano, encontrou-se junto a outras sepulturas, e praticamente intato
este peculiar monumento funerário escalonado com uma inscrição dedicada a Gneo
Zosimo.
A inscrição diz que é “consagrado
aos deuses Manes de Gneo Zósimo, benfeitor da Legião VII Gémina Pía Felíz,
itálico de nação, com vinte anos de serviço; viveu trinta e sete anos, sete
meses e quarenta e oito dias. Junia Vera dedicou isto ao seu esposo muito
bondoso e casto. Aqui jaz. Que a terra te seja leve”.
Os antigos romanos pensavam que a
morte era apenas uma mudança na forma de vida e para que este trânsito para a
nova existência se processa-se, tinha que se dada sepultura ao defunto, acompanhando-o
de uma serie de ritos funerários. Se tal não era feito, a alma do morto vagueava
errante, sem morada, provocando desgraças entre os vivos e assustando-os com as
suas aparições noturnas.
O ritual funerário romano
começava na casa do falecido, com a família toda a acompanhar a pessoa que
estava prestes a morrer para lhe dar o ultimo beijo. Desta forma e por mais
algum tempo retinham-lhe a alma, que se lhe escapava pela boca. Depois de
falecer, fechavam-lhe os olhos e chamavam três vezes pelo falecido de forma a
comprovarem a sua morte. Depois era perfumado com unguentos (especiarias), e vestido, se bem
que a lei proibia os luxos nos funerais, podiam por ao defunto as coroas que
tivesse ganho em vida. Também deixavam junto ao cadáver uma moeda para pagar ao
barqueiro Caronte, quem transportava a alma num barco através da lagoa Estigia
até chegar ao reino dos mortos.
Bibliografia:
-Arqueologia da Antiguidade na
Península Ibérica – Porto –ADECAP -2000
-Ritos funerários Romanos – Século II - Museu
Nacional de Arte Romano de Mérida
Fotos: Emílio Moitas
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