A arte pastoril no Alentejo e em particular no concelho de
Arronches remete-nos já para tempos que nos parecem longínquos. Esta arte foi
durante muito tempo uma actividade paralela á questão do pastoreio em que se
matava o tempo alentejano produzindo os mais variados objectos utilitários, mas
também decorativos (eram feitas cáguedas que serviam como fechos de coleira de
gado com chocalhos suspensos.
Outros obejetos como tropeços de cortiça, canudos de lareira
de cana ou sabugueiro, rolos de madeira para estender a massa, tarros, coxos, molduras
saleiros de cortiça, ou ainda trabalhos em chifre, como azeitoneiros,
polverinhos, cornas para as azeitonas assobios, botões, pentes etc.) tendo
sempre como recurso os materiais mais próximos do pastor (madeira, canas,
cortiça, junco, palha, bunho, chifres entre muitos outros dependendo apenas da
imaginação e da habilidade).
A navalha é, na arte pastoril, o elemento essencial, é ela
que borda os materiais, que escava, que corta, recorta, entalha, encaixa e
esgravata. Se por um lado a arte pastoril, nasce para suprimir muitas das
carências e dos recursos materiais das quais as pessoas do campo sofriam
criando objectos utilitários e de uso pessoal ela começou também assumir uma
vertente mais decorativa, mas de uma forma ou de outra nunca esquecendo as
questões estéticas. Muitas vezes alguns dos objectos produzidos no campo à
sobra de qualquer azinheira era a prova da paciência de um amor cuja obra lhe
era oferecida.
A cágueda aqui reproduzida pertence a um chocalho existente
na freguesia de Mosteiros e utilizado já por altura da guerra civil espanhola (1936),
pelos rapazes da freguesia para na noite de comadres irem dar a chocalhada às
raparigas.
As cáguedas trabalhadas sempre foram o orgulho dos pastores,
que tinham possibilidade de as exibir nas feiras ou na cerimónia da bênção do
gado, tradição rural cuja memória se perde na memória dos tempos e em que os
pastores e proprietários de vários tipos de animais desfilavam frente ao padre,
que com o hissope aspergia água benta para cima das reses.
O Dicionário Cândido
de Figueiredo (edição de 1913) diz que “cágueda” é um termo feminino usado na
província do Alentejo, para designar a travinca com que às vezes se prende o
chocallho à coleira. Etimologicamente provirá de “cáguedo´=cágado”.
Efectivamente, há cáguedas que pela sua forma arredondada fazem lembrar um
cágado com a cabeça de fora. E o bom povo alentejano, fazendo de padre de
serviço, terá baptizado assim aquilo que tinha de ter nome.
Bibliografia
- PESSANHA, D. SEBASTIÃO. Fechos das coleiras do gado na
Beira-Baixa e no Alentejo, Imprensa Portuguesa, Porto, 1951.
- Prof. Hernâni Matos - Estremoz
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