terça-feira, 17 de setembro de 2013

Memórias da arte pastoril no concelho de Arronches

A arte pastoril no Alentejo e em particular no concelho de Arronches remete-nos já para tempos que nos parecem longínquos. Esta arte foi durante muito tempo uma actividade paralela á questão do pastoreio em que se matava o tempo alentejano produzindo os mais variados objectos utilitários, mas também decorativos (eram feitas cáguedas que serviam como fechos de coleira de gado com chocalhos suspensos.

Outros obejetos como tropeços de cortiça, canudos de lareira de cana ou sabugueiro, rolos de madeira para estender a massa, tarros, coxos, molduras saleiros de cortiça, ou ainda trabalhos em chifre, como azeitoneiros, polverinhos, cornas para as azeitonas assobios, botões, pentes etc.) tendo sempre como recurso os materiais mais próximos do pastor (madeira, canas, cortiça, junco, palha, bunho, chifres entre muitos outros dependendo apenas da imaginação e da habilidade).

A navalha é, na arte pastoril, o elemento essencial, é ela que borda os materiais, que escava, que corta, recorta, entalha, encaixa e esgravata. Se por um lado a arte pastoril, nasce para suprimir muitas das carências e dos recursos materiais das quais as pessoas do campo sofriam criando objectos utilitários e de uso pessoal ela começou também assumir uma vertente mais decorativa, mas de uma forma ou de outra nunca esquecendo as questões estéticas. Muitas vezes alguns dos objectos produzidos no campo à sobra de qualquer azinheira era a prova da paciência de um amor cuja obra lhe era oferecida.

A cágueda aqui reproduzida pertence a um chocalho existente na freguesia de Mosteiros e utilizado já por altura da guerra civil espanhola (1936), pelos rapazes da freguesia para na noite de comadres irem dar a chocalhada às raparigas.  

As cáguedas trabalhadas sempre foram o orgulho dos pastores, que tinham possibilidade de as exibir nas feiras ou na cerimónia da bênção do gado, tradição rural cuja memória se perde na memória dos tempos e em que os pastores e proprietários de vários tipos de animais desfilavam frente ao padre, que com o hissope aspergia água benta para cima das reses.

 O Dicionário Cândido de Figueiredo (edição de 1913) diz que “cágueda” é um termo feminino usado na província do Alentejo, para designar a travinca com que às vezes se prende o chocallho à coleira. Etimologicamente provirá de “cáguedo´=cágado”. Efectivamente, há cáguedas que pela sua forma arredondada fazem lembrar um cágado com a cabeça de fora. E o bom povo alentejano, fazendo de padre de serviço, terá baptizado assim aquilo que tinha de ter nome.

Bibliografia
- PESSANHA, D. SEBASTIÃO. Fechos das coleiras do gado na Beira-Baixa e no Alentejo, Imprensa Portuguesa, Porto, 1951.
- Prof. Hernâni Matos - Estremoz

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