As memórias hoje partilhadas aqui, aconteceram em Arronches, num desses montes alentejanos rodeados de vastos montados de azinho e onde trabalhou e viveu gente até á década de 1960, do passado século, um mundo rural hoje perdido com muitas vivências, mitos e lendas e realidades.
O Caso em particular não trata de uma lenda, mas sim de um drama talvez motivado pela solidão e dureza da vida nos campos do Alentejo, que na época gerou grande comoção e tristeza nas gentes do povo.
Reza a história que um jovem na flor da idade, por amor não correspondido se matou novo, era ajuda do vaqueiro, hoje uma das profissões em extinção, que no entanto, não deixou de ser uma marca das planícies alentejanas com destaque para o concelho de Arronches onde as manadas de vacas de raça alentejana coloriam a paisagem e faziam ouvir os seus chocalhos a quilómetros de distancia, principalmente nas noites de verão, quando os animais pastavam durante a noite para escaparem ao calor abrasador do dia.
Consta que o foi um exímio desenhador a carvão e lápis de cenas campestres, com animais, flores ou frutos, enquanto guardava o rebanho e tendo como suporte para a sua arte as paredes de currais de gado ou muros do monte.
Uma arte que as paredes durante muitos anos teimaram em perpetuar, embora sujeita ao desgaste das inclemências do tempo e dos humanos (chuva, sol ou o abandono) do velho monte e da arribana dos bois em particular, hoje em ruínas.
Numa das idas a visitar uma anta existente na zona, resgatamos das ruinas ainda há poucos anos, este fragmento de reboco com um desenho do jovem artista, mostrando uma cena taurina meio apagada.
Desta história que em criança escutei dezenas de vezes aos idosos do lugar, veio-me á memória a conhecida música Rui Veloso com letra de Carlos Tê, “Porto Covo”.
Neste caso não havia nem ilha ou pessegueiro,
Mas havia uma enorme e velha azinheira no monte,
Que em tardes de calmaria dava sombra ao jovem vaqueiro,
Que dizem que por amor se matou novo,
Algures aqui pelos montes em Arronches...
Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo
Fotos / Emílio Moitas / Arquivo Municipal CME
Nota/ Tento por objetivo resgatar a memória local e lembrar o talento do jovem artista, embora os factos tenham tido lugar há muitos anos, foram omitidos nomes de pessoas e lugares.
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