quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Alentejo - A voz dos sinos está a desaparecer em Arronches


Em Arronches assim como muitas outras localidades do Alentejo profundo, onde todos conheciam a voz dos sinos que em algumas vilas ou aldeias faziam ou ainda fazem parte da paisagem urbana, desde tempos remotos, assim como o traçado reto ou tortuoso de ruas e vielas, com o casario encarapitado em ladeiras e morros, com as torres das igrejas onde ficam abrigados os “bronzes” que comunicam, convocam e celebram a vida e choram a morte.

Em Arronches a voz dos sinos, é um património sonoro que está a desaparecer, o sino da pequena sineira do edifício da fortaleza, agora pintada de fresco, que no passado convocava os presos para as refeições ou na hora de recolher, há muito que desapareceu, restando no antigo largo da Cadeia a sua sineira que outrora o acolheu.
Os sinos da Torre do Relógio, na praça da República, que durante séculos marcaram o tempo dos arronchenses e que se faziam ouvir nos montes em redor da vila, também se calaram, dizem que por avaria no relógio.

Quanto ao sino da torre do convento de Nossa Senhora da Luz, que ainda num passado recente se fazia ouvir com o seu toque peculiar anunciando celebrações religiosas, também se remeteu ao silêncio.

Dos sinos da torre da Misericórdia, (antiga Gafaria) fundada no ano de 1362 por Rui Gonçalves, alcaide-mor da vila de Arronches, e no século XV transformada em Santa Casa da Misericórdia de Arronches, pouco ou nada se sabe.

Restam os sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, que por enquanto ainda se fazem ouvir e continuam a cumprir a sua função convocando os arronchenses para alegrias e tristezas, anunciando cerimónias religiosas, casamentos e batizados (poucos), ou para avisar que morreu um paroquiano, para especificar se era homem ou mulher, para convocar os fiéis, para anunciar que o cortejo fúnebre está a sair da igreja, etc.,

O toque mágico dos sinos – sabe-se também – vem de mãos ágeis e hábeis de detentores de um saber com raízes plantadas na nossa ancestralidade, hoje contrariado e em muitos casos substituído por sistemas automatizados.

Atualmente diríamos que os sinos são um meio de comunicação praticamente desnecessário, porque há o telefone, o rádio, a televisão, as redes sociais cumprem essa função. Mas o sino destaca, quando se trata de um facto local, como um dia de festa ou a morte de uma pessoa da vila, por exemplo, os sinos ainda são a “gazeta” da terra e o sineiro, o repórter de serviço.
Fotos/ Emílio Moitas





 

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